segunda-feira, 27 de junho de 2011

UMA MENINA

 Mônica Aguiar



- De vez em quando olhamos para todos os lados.
Foi a ultima frase que ouvi de uma menina que veio do interior, em busca de um futuro melhor.
Seu nome Iolanda.
Menina pequena, franzina nascida no interior das Gerais. Pouco estudo e um sotaque bem regional.
Iolanda, que gosta de ser chamada Io,  disse que estava cansada de levantar cedo, andar muito para chegar na escola que ficava nas terras de um doutor que era deputado na cidade, mais nunca havia feito nada para cidade dela.
No caminho de volta tinha que catar lenha para mãe que era sozinha, pois o pai foi trabalhar na cidade e nunca mais voltou.
Carregava uma sacola de retalhos feita pela mãe,  cheias de livros embalados pelo papel que cuidadosamente a mãe escondia para o irmão do meio não fazer papagaio.
Papel da embalagem do pão, que buscava de vez em quando na  venda da Dona Maria do Zé das Coves na virada da serra.
Io olhos negros, pela negra, sorriso encantador. Radiante de esta pisando pela primeira vez na cidade.  
Curiosa com a situação da menina já bem no meio da conversa  perguntei:
- Iolanda , você não tem medo com apenas 16 anos estar aqui sozinha ?
Iolanda disse:
-Não senhora chamo Io, Tenho não. Vim pra trabalhar e vou, ajuda minha mãe e meus irmãos.
- Vai pra onde?
-Vo pra casa de uma senhora amiga do deputado que teve lá na nossa casa e ofereceu emprego pra ajuda a gente.
- Ela vai te dá um emprego?
- Sabe aqui na cidade eles falam emprego, mais lá na roça é trabalho mesmo.
- Que bom!
- Bom nada. Ela tá pensando que só boba, não só não.
-Por quê?
- Ta pensando que vo trabalha cedinho igual lá na roça, até tarde.
Que vo quere ganha uns trocadinhos, passar pó humilhação. Vo não senhora. Nem pensar.
- O que você vai querer então?
- O que é meu direito uai . Salário  mínimo, carteira assinada, e tempo para estuda.
Eu dei um sorriso, ela não entendeu e com expressão chateada perguntou:
- A senhora ta rindo por quê?
- Por nada.
- Se ta rindo tem motivo.
- Não tem não.
- Este povo daqui é esquisito mesmo.
- Meu ónibus.
- Sabe qual pegar?
- Sim senhora, eu sei lê mar, mais sei.
- Que bom.
- Bom se tivesse caro, eu até dava uma carona  pra senhora .
-Cuidado com as ruas são movimentadas.
-Pode deixar de vez em quando a gente olha pro dois lados. Quando tem mão dupla.


Nenhum comentário:

MAIS LIDAS