segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Taxa de fecundidade caiu mais entre mulheres de menor renda


   A diferença entre o número médio de filhos das mulheres mais pobres e mais ricas no Brasil caiu significativamente na década passada. Dados do Censo do IBGE tabulados pelo Ministério do Desenvolvimento Social revelam que a maior redução da fecundidade aconteceu entre a população que vive abaixo da linha de miséria, com menos de R$ 70 per capita mensais. Enquanto isso, entre a população mais rica, a taxa média de filhos por mulher praticamente se estabilizou próximo ao patamar de apenas um filho por mulher.
Em 2000, o número médio de filhos entre as brasileiras mais pobres ainda seguia um padrão africano de fecundidade: 5,1 filhos por mulher. Dez anos depois, caiu para 3,6. A continuar nesse ritmo, o país chegará ao patamar considerado de mera reposição populacional (inferior a 2,1 filhos por mulher) mesmo entre a população mais pobre.
Tabulações feitas pelo GLOBO no Censo mostram também que, mesmo neste grupo mais pobre, famílias numerosas passaram a ser exceção, e não mais a regra. Do total de mulheres abaixo da linha da miséria, 57% tinham dois filhos ou menos, e somente 18%, cinco ou mais filhos.
A queda da fecundidade em todas as faixas de renda tem impactos significativos em políticas públicas. Analisando a série histórica do Censo, percebe-se que, a depender só da população de crianças de 0 a 4 anos, o país já estaria em ritmo acelerado de encolhimento populacional. Em 2010, o censo do IBGE contou 13,8 milhões de crianças nessa faixa etária. É exatamente o mesmo número verificado em 1970 e representa 2,5 milhões de crianças a menos em relação a 2000.
Essa queda de 0 a 4 anos foi verificada mesmo em algumas áreas mais pobres de grandes cidades, caso das comunidades do Complexo do Alemão (-22%), da Maré (-17%) e da Rocinha (-6%).
Um número menor de crianças facilita a tarefa do poder público de aumentar os investimentos per capita na infância, mas traz também desafios futuros de sustentabilidade da Previdência, já que haverá cada vez menos jovens e adultos para sustentar uma população crescente de idosos.
Gravidez precoce
A queda da fecundidade na década passada se deu também, como mostra um trabalho dos demógrafos Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Diniz Alves, entre as mulheres mais jovens, de 15 a 19 anos, revertendo tendência de crescimento da década de 90.
Apesar disso, os pesquisadores alertam que ainda há diferenciais significativos de fecundidade por renda neste grupo etário, com uma jovem com baixa escolaridade e morando em domicílio de menor renda tendo até 10 vezes mais chance de ter tido filho quando comparada com uma adolescente de alta renda e escolaridade.
Cavenaghi e Alves chamam atenção também para outro ponto: mesmo o Brasil já tendo chegado a uma taxa média de 1,9 filhos por mulher (mesmo patamar da Finlândia, por exemplo), especificamente na faixa de 15 a 19 anos, nosso padrão ainda é destoante. Nesse grupo etário, o Censo de 2010 registrou 70 nascimentos para cada grupo de 100 mil mulheres. Na Coreia do Sul, essa relação é de apenas 2,3 por mil; na China, chega a 29,5 por mil; e nos Estados Unidos, a 34 por mil.
— O que se percebe na Europa é que as mulheres têm menos filhos e adiam a primeira gravidez. No Brasil, elas também têm cada vez menos filhos, porém, entre as mais pobres, ocorre com frequência que o primeiro nascimento acontece ainda na adolescência, e só depois elas passam a evitar a gravidez — diz Alves.

Fonte e texto: O Globo e AgenciaPatriciaGalvão

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