domingo, 22 de janeiro de 2017

IVETH MAFUNDZA E BANDA 7 MARIAS: MÚSICA PELO FEMINISMO EM MOÇAMBIQUE

Por: Luciara Ribeiro 

Não é de hoje que ouvimos falar em feminismo e luta pelos direitos das mulheres em nossa sociedade. Diariamente, mulheres em diversas regiões do mundo lutam por igualdade de gênero, pelos direitos de ir e vir, de serem proprietárias dos seus corpos e das decisões sobre eles, por divisões justas de trabalho, de tarefas domésticas, de espaços de atuação, de remuneração etc.
Ser feminista é a maneira encontrada por muitas mulheres para expressarem a união dessas lutas, da criação de espaços de compartilhamento de pensamentos, de afirmação e encorajamento. Assumir-se feminista é unir vida e luta, é saber buscar meios de resistência contra a violência machista do dia a dia.
Um exemplo inspirador destes conceitos é o da cantora moçambicana Iveth Mafundza, que por meio da voz e de suas colegas integrantes da Banda 7 Empoderadas unem música e feminismo em um mesmo espaço. Iveth, como costumeiramente é chamada, nasceu na cidade de Maputo, capital de Moçambique e deu os primeiros passos na música cantando na escola. Durante a adolescência foi integrante dos grupos Beat Crew e Famale Mcs, e a partir de 2005 seguiu carreira solo. Contudo, foi em 2010, com o lançamento do álbum O Convite, que sua voz ganhou as rádios e os ouvidos moçambicanos. Tradicionalmente um espaço tomado pela representação masculina, o rap foi intencionalmente escolhido por Mafundza como campo de desenvolvimento.
Apesar da sólida carreira na indústria fonográfica, Iveth não se limita apenas à sua carreira musical, além de rapper, é jurista, ativista social, feminista, escritora, poetisa e docente na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Maputo. Como se pode perceber Iveth desempenha diversas funções, porém com um propósito comum: a luta pelos direitos da mulher dentro da sociedade moçambicana. É o caso, por exemplo, das músicas Rosa Ana Paulina e Capulana hip hop, que por meio da crítica social contida nas letras une o aprendizado universitário, o trabalho de jurista e o ativismo político e feminista para criar composições engajadas que refletem sobre os direitos das mulheres.
Capulana Hip Hop, além de ser o nome de uma de suas canções, é também um de seus shows que ressalta o uso das capulanas pelas mulheres moçambicanas. Capulana é um tipo de tecido muito comercializado em Moçambique e que apresenta diversos modelos de estampas, cores e usos. Atualmente, podem ser consideradas um elemento presente no cotidiano da maioria das mulheres moçambicanas, sendo utilizadas na confecção de vestimentas, na acomodação de crianças junto ao corpo, na proteção durante trabalhos domésticos, entre outros usos. A capulana é utilizada por muitos grupos feministas como um elemento de afirmação da luta, força e beleza da mulher moçambicana. O uso da capulana está presente desde as zonas rurais às zonas urbanas, dificilmente encontra-se com uma mulher em moçambique que não tenha um par de capulanas consigo.
 Apesar da sólida carreira na indústria fonográfica, Iveth não se limita apenas à sua carreira musical, além de rapper, é jurista, ativista social, feminista, escritora, poetisa e professora. (Foto: Reprodução)
Mencionada no início da reportagem, a Banda 7 Marias e outros nomes da cena musical moçambicana se inspiram e seguem pelo mesmo caminho traçado por Iveth. A Banda das 7 Marias é formada pela saxofonista Atija Monteiro, a baixista Maria Alice Inguane, a guitarrista Crizalda Xerinda, a pianista Raquel Albino Machachula, a baterista Matilde Vanessa e as violinistas Joyce Karmen e Júlia Alayde Mário, que foram convidadas a participar de um dos shows da turnê Capulana Hip Hop, de Iveth Mafundza.
As sete são estudantes da graduação em Música da Universidade Eduardo Mondlane e lá formaram o grupo por incentivo de um professor do curso e ao longo dos ensaios, a banda percebeu que essa era mais do que uma atuação profissional, mas, sobretudo, uma ação política na busca do espaço da mulher dentro do cenário musical moçambicano e ao incentivo do empoderamento feminino na sociedade.
O grupo traz como referência musical cantoras moçambicanas como Mingas (Elisa Domingas Jamisse) e Yolanda Kakana (Yolanda Chicane), duas vozes femininas de destaque na música em Moçambique e referência na luta pela participação feminina no cenário musical do país. Além de fazerem releituras de conhecidas cancões moçambicanas cantadas por homens e transpô-las para as vozes femininas da banda, como o caso de Ava Sati Va Lomu, de Fany Mfumo. Iveth Mafundza e a Banda 7 Marias caminham em busca de uma sociedade em que tenham mais vozes femininas sendo ouvidas e que todas as mulheres moçambicanas sejam escutadas em todos os campos de atuação, principalmente nos setores políticos.
Fonte: CEERT

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