terça-feira, 2 de abril de 2024

Narrativas de mulheres negras . De Goiás a Minas Gerais

 Por Mônica Aguiar 


 O convite chegou de *
Janira Sodré e *Lucilene Kalunga para conhecer a entidade que eu coordeno, o Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, hoje, dia 02 de abril. Uma adolescente que completará este ano sua maioridade ao fazer 21 anos, desenvolvendo centenas de trabalhos, vencendo muitas batalhas.

Vermelho: Lucilene Kalunga/Mônica Aguiar/Ialê Tainá e Janira Sodré 
 Ressignificando os espaços e abrindo portas para mulheres negras entrar, uma vez que não é permitido que desempenhem suas qualidades e conheçam o  tamanho de seu potencial humano. 

“Compartilhamento das iniciativas e busca do conhecimento das experiências políticas de mulheres negras protagonistas em Minas Gerais. Uma iniciativa que se deve ao projeto de ampliação da participação de mulheres negras na política institucional”.

Um encontro memorável. Digo que histórico. De Goiás a Minas Gerais. Especificamente, Venda Nova. Terra amada. Cheia de histórias traduzidas por oralidade.

Ao receber, ouvir e conferenciar com estas mulheres cândaces, fez-me perceber com veemência a importância de nós mulheres negras para a sociedade brasileira.  Fortalecer o nosso papel singular para a transformação da sociedade e nossa bagagem na vida política do Brasil. 

Encontrar em um instante com mulheres correspondentes, sentir-se semelhante, em total congruência com a concepção negra para as ações e perspectiva sociopolítica.   

Demos um furo nesta abolha imperceptível, que estabelece dificuldades para estarmos juntas e podermos caminhar em busca de possibilidades concretas.

Nos encontramos. Parafraseamos nossas experiências, nossas dificuldades, nossos métodos de atravessar as barreiras existentes do racismo.  As múltiplas fases do preconceito e preceitos subjetivos. 

Nossas conquistas são obtidas com muito suor. Sangrando! Não existe uma porta que não foi desmantelada com valentia.

Lucilene Kalunga e Mônica Aguiar 
Lágrimas escorrem no rosto, livre de maquiagem, salientando efeitos provenientes das lembranças que despertam sentimentos da alma.

Somos mais que belas mulheres, disciplinadas, benevolentes e loucas. Impecáveis por não dar opiniões ou por concordar com tudo.

Somos muito mais que corpos de prazeres. Não somos mais serviçais, nem muito menos esteriótipos.  Queremos mais porque podemos mais! Temos mestria para ser muito mais.

Nossos caminhos são muitos, estreitos e longos. Nossas cabeças pensam conforme nossos pés pisam. A nossa sabedoria vem das águas dos rios em vales escondidos, bebidas em cambucás refinadas feitas à mão por nossas ancestrais. 

Damos valor a cada vida existente. Lutamos por liberdade.

Um suspiro e silêncio. Pensamentos neste momento de troca de narrativas e vivências transformam-se em filmes em nossos pensamentos.

Olhares que renovam o mundo, mesmo sofrendo com os açoites.

 Conhecer a experiência do CRCNVN nos inspira a entender os significados da potência transformadora de nossos territórios negros urbanos e a tenacidade de suas lideranças. Aprender sobre projetos, estratégias e organização social, comunitária e política com as nossas, evidencia que as transformações que queremos e precisamos nasce dentro de nossas comunidades. Vida longa ao Centro de Referência da Cultura Negra Venda Nova! Janira Sodré

Destaco a importância de conhecer este belo de acolhida, escuta e fortalecimento de mulheres da comunidade. Superando a ausência de financiamento e criando alternativas de sustentabilidade local. Parabéns Monica! Foi uma satisfação te conhecer. Lucilene Kalunga

*Janira Sodré: Doutoranda em História pela Universidade de Brasília. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Graduada em História pela Universidade Federal de Roraima. Professora no Instituto Federal de Goiás.  Membro da Rede Latino-americana de Feminismos de Terreiros; da Assoc. Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras e da Rede de Historiadores Negres. Fundadora da Coletiva Pretas de Angola. Conferencista, produtora cultural, pesquisadora, mentora e consultora de organizações sociais. Com experiências docentes na UEG, Faculdade Jesuíta/Belo Horizonte, CENESCH/Manaus,  Florida International University.  Livros e artigos publicados no Brasil e no exterior. Foi presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial/Goiás. Mãe de Mariana.

*Lucilene Kalunga : Nascida na cidade de Cavalcante (GO) e residente em Goiânia, Lucilene dos Santos Rosa é quilombola kalunga e há mais de 20 anos tem atuação de liderança nas comunidades tradicionais do Nordeste goiano e do movimento negro e de mulheres no estado. É graduada em Turismo e tem especialização em História e Cultura das Africanidades Brasileiras pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem experiência como gestora pública em órgãos de governo, nos quais trabalhou pelo reconhecimento de comunidades quilombolas, pela promoção de políticas para a igualdade racial e direitos de comunidades tradicionais em níveis municipal e estadual. Atualmente integra a articulação técnica do projeto “Quilombos Sustentáveis em Rede do IFG”; é integrante do Fórum Goiano de Mulheres e do Coletivo de Mulheres Quilombolas de Goiás e representante na Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial do IFG. Lucilene Kalunga atua também no apoio e fomento de projetos da agricultura familiar. Ela tem trabalhado para inserir a produção agrícola em espaços de comercialização de alimentos, gerando renda para as famílias dos quilombos e comunidades rurais. Também atua na realização de palestras e oficinas sobre combate ao racismo, comunidades tradicionais, cultura e identidade negra e atuação da mulher na política. É atual Secretária Estadual da Mulher do PSB Goiás. Em 2022, disputou sua primeira eleição como candidata a deputada estadual pelo mesmo partido, obtendo 10 mil votos.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crescem relatos de violência obstétrica

 Por Mônica Aguiar 


Denúncias de violência obstétrica com negligências vem ganhando destaque no Brasil.

Levantamento aponta que no SUS 45% das mulheres sofrem com a violência obstétrica, já nos hospitais privados são 30%.

Segundo pesquisas realizadas entre 2010 a 2021, destacam-se que no atendimento com rede pública as gestantes estão mais suscetíveis as variantes mais comuns de violência durante o parto.

Relatos como: óbito por sofrimento fetal, partos de rua, falta de UTI ou ambiente especializado para receber recém-nascidos, deslocamento de útero na hora do parto, hemorragias, demora na transfusão, recusa em realizar exames, ausência de escuta, falta de paciência, desaparecimento do plantão, aceleramento do parto sem necessidade, limitações na movimentação do copo com ação feita sem o consentimento da mulher, episiotomia, amputações, comentários pejorativos da sexualidade e grosserias verbais.

Cada dia aumentam mais os relatos de atos violentos e negligências em maternidades. Não podemos permitir que sejam naturalizados deixando se tornar comuns.

Violências que segundo relatos ocorrem no pré-natal, parto, pós-parto e em casos de abortamento. As pobres, pretas, pardas, periféricas, LGBTs são as mulheres mais vulneráveis à violência obstétrica. 

O elevado número de interferências obstétricas utilizadas sem comprovação científica consiste no que denominamos de violência obstétrica, é, a comprovação da falta de assistência humanizada.  Atos que demonstram o descaso e autoridade arbitraria sobre o corpo da mulher.

Um caso ganhou projeção nacional nestes últimos 5 dias. Foi o caso da grávida em Duque de Caxias, pariu seu bebe no chão da recepção de uma maternidade ao aguardar reavaliação médica, depois de seis horas em trabalho de parto. Foi orientada com palavras pejorativas e, em tom de deboche por médica de plantão, a retornar para casa. 

Você não deveria nem estar aqui, você deveria estar em casa, 

porque você está treinando”.

Mulher negra, grávida pela quarta vez, se quer foi ouvida, o resultado, o bebe nasceu na recepção do hospital.  

Entre a dor e comprovações das condutas, procedimentos realizados e medicamentos administrados ao longo do processo de parto, a palavra de quem sofreu com a violência.

Nestes casos se faz necessário e urgente a mudança do modelo de atendimento ao parto e nascimento. Mudança e enfrentamento a mercantilização da assistência, que transforma as intervenções obstétricas, que deveriam ser somente utilizadas com indicações precisas, em condutas rotineiras, desnecessárias e racistas.

A onde foi parar o Programa Nacional de Humanização do Pré-natal e Nascimento, a Política Nacional de Humanização, a Rede Cegonha, a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal?

A assistência no pré-natal, parto, nascimento e pós-parto deveriam ser baseados na humanização e princípios que constituem o SUS.

Após milhares de depoimentos, chego à conclusão que estamos cada dia mais distantes dos princípios humanizados baseado em evidências científicas, dos modos de operar com responsabilidade e do conjunto das interações já apontadas entre usuárias e os diferentes profissionais da saúde. 

É preciso ampliar o conceito de violência obstétrica para além do que está tipificado. Dar conta de acompanhar as mudanças temporais que estão sendo salientados nas ações que demostram influência de conceitos racial, moral e religiosos na atenção básica.

Resgatar o contato humano, ouvir, acolher, explicar, criar vínculo são quesitos indispensáveis no cuidado. Tão importante quanto o cuidado físico, a realização de procedimentos comprovadamente benéficos, a redução de medidas intervencionistas, é a privacidade, a autonomia e o respeito à parturiente (KOETTKER; BRUGGEMANN; DUFLOTH, 2013).

É preciso que o Ministério da Saúde faça mais do que apontar Diretrizes. Enfrente a supremacia racial e patriarcal para que as boas práticas sejam de fato implementadas e acompanhem as mudanças temporais de comportamentos inadequados a fim de coibi-los.

Fontes:  Agência Câmara de Notícias/ Noticias UOL / Correos24 / “Nascer no Brasil”, da Fiocruz/ Agência Câmara de Notícias

sexta-feira, 8 de março de 2024

COMO NÃO SOFRER? 8 DE MARÇO

Por Mônica Aguiar

É complexo perceber as contradições e variantes  existentes entre as relações dos seres humanos. Contudo, falas e práticas se unem em busca do amor, da paz , do bem viver e por vida.

Nas  linhas que marcam as páginas das nossas vidas, as variantes ocultas alicerçam assimetrias da dominação.  

Da  intocável casta patrimonialistas protetora da supremacia branca, surge a catequização segregadora entre o bem e mal, o belo e feio, o inferno e céu com  as perspectivas esteada nas intratáveis concepções, patriarcais, morais e religiosas.  

Objetivos compartidos através de espaços institucionais. Obediência, subserviência, sem o direito de encontrar seu papel na sociedade.

Alimentam as estruturas da educação com pejorativos de inferioridade que moldam as múltiplas manifestações de racismo, violências e auto responsabilização.

Ajustam e moldam suas ações na política para dominar os propósitos de emancipações econômicas, educacionais reprimindo qualquer projeto verdadeiramente de igualdade.

Estabelecem regras androcentristas que passam ser vistas sugestivamente como culturais. Utilizam de práticas mágicas mantendo interferência direta nas decisões pessoais, na vida sexual e reprodutiva das mulheres. Dos corpos á sexualidade, racionalidade e sentimentos.

Revelam-se, sem o menor constrangimento, todos os níveis de desumanização, preconceitos, discriminações, intolerância e violências.

A assertiva delatada repetida vezes por participantes dos movimentos de mulheres feministas negras, sobre genocídios, desigualdades sociorracial, sempre apontaram para a supremacia branca existente e sobre as implicações das assimetrias do racismo nas relações raciais no Brasil.

Um mito de democracia racial institucionalizado, provavelmente,  um dos mais poderosos mecanismos ideológicos de dominação já produzidos no mundo.

Regam os canteiros com migalhas, criam uma satisfação em comum de bem estar,  um apartheid invisível aos olhos da sociedade e  concreta aos anseios humanos.

Em alertas restabelecem novas bases com conceitos e ações que interferem diretamente nas agendas e concepções emancipatórias do feminismo. Reajustam as roupas moldando as silhuetas.  

Estão em maioria nos espaços de poderes, com isto, as possibilidades são infinitas para criar jogos abstraídos das concepções ideológicas e teorias masculinas, para este imenso tabuleiro.

Na busca do amor, paz, bem viver, pela vida sigamos com independência e liberdade para construir novos caminhos livres do racismo e do patriarcado.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

E assim vamos nós, lutando pela existência de nossas gerações.

 Por Mônica Aguiar 

Vamos que vamos! Frase muito usada por quem sonha em passar o cajado para descansar.

Com olhar cansado e triste, cabelos brancos, mãos trêmulas com rosto marcado por batalhas cotidiana em prol da vida de suas gerações, seguem as sobreviventes nesta terra que habitam algozes, que já não se escondem atrás de máscaras, o ódio e aversão às pessoas pobres e pretas.   

Entre vales, planaltos e depressões estão as denominadas favelas com suas mães “faveladas” e sua prole para sustentar.

As variações linguísticas moldam a comunicação determinando a origem e lugar que sempre será ocupado com função servil. Não importam que se esforcem, como se empenham e nem a aptidão do saber fazer.

Na proteção da prole contra as famélicas hienas não existe a menor possibilidade de demostrar astenia. Basta um piscar nos olhos, um segundo de descanso, tudo pode acontecer.

As vestes dos inculpados traduz a cultura e o grito por liberdade.  São alvos certos dos impetuosos com seu modus operandi que filtram por estereótipos de criminalidade dos falaciosos atos infracionais.

Do minuto de alegria, brotam lágrimas, suspiros e suor. Desespero, medo e dor!

O menosprezo dos impiedosos que lutam para manter o controle do mundo, abastecem as suas tetas com resquícios do racismo e de todas as formas de intolerâncias. Conspurcam a cultura do nosso povo e dão risadas como hienas no cio.

Poucas são as mulheres negras que furam esta bolha criada e mantida por esta estirpe existente. 

As curvas nas costas evidenciam a força dos açoites das desigualdades. As vestes surradas encobrem marcas das violências.

No alto do cansaço, cada hora e todos os segundos importam no monitoramento em salvaguarda das vidas.

Um pequeno suspiro para exalar o odor d’alma, o suor frio escorre no rosto marcando a desventura advinda da exaustão das lutas.

  A quem transferir este cajado, deixando de ser guardiã da vida para poder, descansar o sono eterno?


QUEM É MÔNICA AGUIAR 

Mônica Aguiar é militante há 40 anos, professora, jornalista e escritora,  coordena o Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova é da Rede Nacional de Ciberativistas Negras. Criou o Blog  Mulher Negra que traz notícias do Brasil e do mundo diariamente. Educação, ciências e tecnologia, cultura, arte, cinema, literaturas, economia, política, dentre outros.  Construindo a visibilidade das mulheres negras em fatos reais no mundo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Lélia Gonzalez . O legado, a frente dos tempos

 Por Mônica Aguiar 

Natural de Belo Horizonte, Lélia Gonzalez, historiadora, antropóloga e filósofa, autora de livros e diversos artigos. Neste 1° de fevereiro, completaria 87 anos.

O legado da intelectual ainda inspira artistas e ativistas negros.

Lélia é uma referência fundamental para o movimento de mulheres negras. Educadora, ativista e intelectual de destaque, seu pensamento contribuiu para a formação de uma consciência crítica em relação ao racismo que mantêm mulheres negras em desvantagem na sociedade.

Lélia Gonzalez, mudou-se com a família em 1942 para o Rio de Janeiro, acompanhando o irmão Jaime, jogador de futebol do Flamengo. No Rio de Janeiro, cidade que amava, seu primeiro emprego foi de babá. Não raro se identificava como carioca, foi torcedora incondicional do Flamengo.

Concluiu o mestrado em comunicação social e doutorou-se em antropologia política /social, em São Paulo–SP. Dedicou-se às pesquisas sobre a temática de gênero e etnia. Foi professora universitária, lecionava Cultura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – Rio). Seu último cargo na instituição foi de chefa do departamento de Sociologia e Política.

Diferente do que estar sendo divulgado, Lélia por ser liderança nacional, seu nome sempre teve visibilidade, é referência.  Através do candomblé, da psicanálise e da cultura afro-brasileira assumiu sua condição de mulher e negra.

As reflexões de Lélia Gonzalez estão contidas na história de vários meios de comunicações, teses político-sociais, partidários, do movimento negro e na lutas das mulheres negras.

Ativista incansável, militou em diversas organizações, com o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga, do qual foi uma das fundadoras. Em Salvador fez-se presente na fundação do Olodum.

Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo: negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da questão da discriminação racial neste país, vai ser muito difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial. Lélia Gonzalez


Sua importante atuação em defesa da mulher negra rendeu a Lélia a indicação para membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). Atuou no órgão de 1985 a 1989. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e disputou vaga na Câmara Federal, em 1982, alcançando a primeira suplência. Foi candidata a deputada federal em 1982. Em 1986, estava no Partido Democrático Trabalhista (PDT), por onde se candidatou como deputada estadual, também conquistando a suplência.

Ajudou a construir a origem do conceito de amefricanidade.  Escreveu Festas populares no Brasil, premiado na Feira de Frankfurt, Lugar de negro, em co-autoria com Carlos Hasenbalg, duas teses de pós-graduação, além de diversos artigos para revistas científicas e obras coletivas.

Faleceu vítima de problemas cardíacos no Rio de Janeiro no dia 10 julho de 1994.

Lélia exerceu um papel fundamental na criação e ampliação do movimento negro contemporâneo. Em termos pessoais, seu grande orgulho serviu como “catalisadora” dos anseios de uma parcela da juventude negra de Salvador, Bahia, no final dos anos 70.

A partir de um ciclo de palestras que ela realizou na cidade, em maio de 1978. Este fato revela o que, para mim, foi o traço mais característico de Lélia: "a capacidade ímpar de nos instigar com a exuberância de sua fala, nos inspirar com a luminosidade de sua personalidade”. (Luiza Barros. Extraído do artigo “Lembrando Lélia Gonzalez”. In.: Livro da saúde das Mulheres Negras).

Sueli Carneiro, em uma das homenagens à Lelia Gonzales, mencionou o papel singular de Lélia, “ao introduzir em todas as dimensões da temática da mulher a questão das mulheres negras como uma condição existencial agravada, do ponto de vista das relações de gênero, pelo racismo, e que também seria determinante para a posição de classe das mulheres negras na sociedade brasileira”, contrariando o mito da democracia racial. Ideias que confrontaram o próprio movimento negro, a cujos militantes, Lélia apontava a contradição de reproduzirem as práticas sexistas da sociedade que impõe uma masculinidade agressiva, mesmo tendo uma avançada consciência em relação às questões de raça e classe. O legado da noção de pertencimento e percepção social.

O compromisso das mulheres negras com a transformação social era visto por Lélia como prioritário, pois como ‘amefricanas’, como ela dizia, sabemos bem o quanto trazemos em nós a marca da opressão econômica e da subordinação racial e sexual” Sueli Carneiro.

Digo que falar de Lélia Gonzales não pode ser apenas para preencher páginas de jornais no mes que a exaltamos.

Falar de Lélia é trazer a tona o debate sobre das desigualdades de forma qualificada, baseada nos estudos apresentado por Lélias e outras feministas e intelectuais negras como: Luiza Bairros, Suely Carneiro, Jurema Weneck, Lucia Xavier, Sônia Leite, Wania Santana, Izilda Toledo, Lêda Leal, Marta Cesária, Mônica Oliveira, Nilza Iracy, Sônia Cleide, Cláudia Luna, Cida Badu, Professora Angela Benedita, Denise Pacheco, Fátima Oliveira, Antonieta de Barros,  Theodosina Rosário,   Benedita da Silva, Jurema Batista, Olívia Santana, Mônica Aguiar, Claudete Alves, Maria do Rosário, Cristiane Almeida, Lívia Sant’anna, dentre outras que atuam incansavelmente contra o racismo.

Desejo muito que um dia pessoas brancas entendam e respeite o poder de fala e pensamento das intelectuais e ativistas negras. Que se constitua verdadeiras condições em prol de uma sociedade que não invisibilize e aproprie de nossos pensamentos, que não menospreze nossas narrativas políticas e social. Que seja de fato igualitária.

 

Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto, nosso lema deve ser: organização já! Lélia Gonzalez

 

Fontes: Geledez, CRIOLA, Afrocut 

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