sexta-feira, 15 de abril de 2016

Mulheres São Diminuídas por Machismo Velado : Gaslighting

Por Luanda Lima 


Nos últimos dias, dois casos colocaram em pauta o machismo velado ao falar sobre mulheres em posição de liderança. Em ambos os fatos, o foco foi estereótipos de figuras femininas criada  como emocionalmente instáveis.  A primeira polêmica veio à tona com a divulgação da reportagem de capa de uma  revista.  O material argumenta que a Presidenta Dilma Rousseff estaria “fora de si” e com “problemas emocionais”. Depois do caso da presidenta, viralizou nas redes sociais um vídeo em que a jurista Janaína Paschoal, coautora do pedido de impeachment que está sendo analisado na Câmara dos Deputados, critica o governo federal em um discurso na Universidade de São Paulo (USP).

De imediato, uma palavra veio à tona para classificar tanto o enfoque dado pela reportagem quanto aos críticos à fala da advogada: gaslighting. O termo surgiu com o longa-metragem americano À Meia-Luz (no título original Gaslight), de 1944, no qual um homem tenta fazer sua esposa pensar que enlouqueceu. 

O gaslighting pode acontecer tanto em um relacionamento, quanto com mulheres que fazem parte da vida pública e são criticadas em relação a sua saúde mental, quando temos uma série de exemplos de homens na política que agem de maneira similar e não têm a sua sanidade questionada. Quando é uma mulher e ela age de uma maneira ou ocupa um espaço que a sociedade não espera, vai ser agredida pessoalmente, muito além de seu trabalho”, diz Luíse Bello, da ONG Think Olga.

Formas de machismo no discursoEsse tipo de violência emocional, portanto, consiste na manipulação psicológica que leva a mulher e as pessoas à sua volta pensarem que ela perdeu a sanidade ou é incapaz. Com relatos falsos sobre o que aconteceu e frases como “você está exagerando”, “isso nunca aconteceu”, “você é muito sensível” ou “você está louca”, a memória e a percepção da vítima são postas em dúvida. 

Além do gaslighting, outros termos foram criados para fazer referência às maneiras usadas frequentemente para inferiorizar ou silenciar mulheres. Um deles é bropriating, junção de bro (forma inglesa curta para brother, ou seja, irmão), e appropriating (apropriação), se relacionando a situações em que um homem se apropria das ideias de uma mulher e leva crédito por elas, por exemplo, durante uma reunião de trabalho. 

Ativistas citam também o manterrupting, união de man (homem) e interrupting(interrupção), quando uma mulher não consegue concluir uma frase porque é constantemente interrompida pelos homens em volta. Há também a prática conhecida como mansplaining, quando um homem explica didaticamente algo óbvio, como se a mulher não fosse dotada de compreensão ou conhecimento sobre o assunto. O termo também se refere a situações em que o homem tenta desacreditar a mulher sobre algo a respeito de que ela esteja certa.


“O machismo também se manifesta de maneiras sutis, reproduzidas inconscientemente e com os quais as mulheres se acostumam. Não é porque um homem pratica esse tipo de comportamento que está fazendo de propósito, porque quer roubar uma ideia ou calar uma mulher, mas porque a mulher é colocada em uma situação de inferioridade social e ele se sente naturalmente no direito de falar por cima dela, de achar que é obrigação dela ter o cuidado com o café no escritório”, diz Luíse. ”A gente tem que parar de fingir que isso não acontece ou não é uma questão de gênero”. Para a publicitária, é fundamental refletir sobre atitudes como essas e combatê-las com propostas, “com uma mudança de comportamento e uma conscientização dos homens e das mulheres para que isso não se repita”.

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