quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Os Negros Representam Menos de 50% dos Bem Sucedidos no Brasil


Mônica Aguiar 
Brasileiros negros que fazem parte do 1% mais rico do país. Frequentam festas, restaurantes, hotéis, cursos, espaços em que são minoria. 
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o 1% mais rico é formado por 79% de brancos e 17,4% de negros (classificação usada pelo órgão para os que se autodeclaram pretos e pardos. Os percentuais restantes se referem a amarelos e indígenas).
Há diferentes métodos para se chegar ao topo da pirâmide de renda. Um deles considera o 1% mais rico da população brasileiros que ganham mais de R$ 260 mil por ano – o cálculo é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e da Receita Federal.
Neste grupo, que segundo projeções do IBGE reúne de 1,4 milhão de pessoas adultas, há cada vez mais negros. Em 10 anos, passou de 12,5%, em 2004, para 17,4% em 2014. Mesmo assim esta longe de representar os 53,06 % do total que soma a população brasileira. 
Preconceito econômico e social
Sociólogo e professor , Emerson Rocha desenvolveu um estudo com base em dados do IBGE sobre o negro no mundo dos ricos. O que e reafirma a tese ja adotada a muito pelo movimento negro de que o preconceito no Brasil é mais econômico do que racial.
A educação é apontada como fundamental para que se diminua a desigualdade na parcela dos mais ricos. 
Em um estudo sobre raça e educação que conduziu no Ipea, a pesquisadora mostra que a desigualdade no ensino superior continua muito alta, apesar de um avanço nas últimas décadas. Em 2001, 13,3% das pessoas brancas e 3,5% das pessoas negras tinham 12 anos ou mais de estudo. Já em 2012, última pesquisa feita sobre o tema, os números subiram para 22,2% e 9,5%, respectivamente.
Autossegregação
Contudo, os estudiosos avaliam que, sozinha, a educação não amplia a presença de negros entre os mais ricos – o racismo continua sendo um forte empecilho.
Pesquisas apontam que essa visão afeta a sociedade como um todo. Por um lado gera discriminação e, por outro, cria o fenômeno da autossegregação.
Um estudo de 2006  mostra como, apesar da ascensão econômica, muitos negros, diferentemente de brancos, acabam se restringindo a seus espaços originais de moradia.
A pesquisa revela, por meio de mapas de sete grandes capitais brasileiras, que, apesar de terem condições de morar em um distrito de classe média alta, negros tendem a optar viver em áreas onde o padrão de renda é inferior – se um branco enriquece, tende a se mudar para uma área de maior status.
Essa separação é mais alta nas classes de renda mais elevada. “Pode-se inferir que a segregação racial entre brancos, pretos e pardos não pode ser atribuída apenas ao status socioeconômico. Fatores como autossegregação e racismo também têm que ser levados em consideração”, conclui o estudo, citado pelo Programa de Desenvolvimento Humano da ONU.
Histórico 
O Instituto Ethos, em cooperação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizou  levantamento sobre o perfil do trabalhador brasileiro dentro das maiores empresas atuantes no país. O resultado desse trabalho é o estudo Perfil Social, Racial e de Gênero nas 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, que confirma um quadro já conhecido desde a última pesquisa realizada pela entidade em 2010: a representatividade de mulheres e negros nas empresas não reflete a composição social do país.
Menos de 5% dos cargos do alto escalão das 500 maiores empresas brasileiras é ocupado por negros. Mesmo em cargos mais baixos, a presença de negros no mercado de trabalho não reflete a representatividade desse grupo, que corresponde a 52,9% da população brasileira, segundo dados do último censo realizado pelo IBGE. No quadro funcional, acima apenas de estagiários e trainees, a presença de negros é de 35,7%, contra 62,8% de brancos. Conforme a hierarquia dos cargos aumenta, a presença de negros diminui: entre os supervisores, os afrodescentes são apenas 25,9% e entre os gerentes o número cai para 6,3%.
Quadro semelhante ocorre com as mulheres, que são 51,4% da população, mas que ainda encontram barreiras para se verem representadas nas hierarquias mais altas das empresas. No quadro funcional, elas são apenas 35,5%, no grupo dos gerentes a presença dela cai para 31,3% e despenca para 13,6% nos altos quadros executivos.
Estas são as principais conclusões do estudo, que avaliou também a presença de pessoas com deficiências físicas e maiores de 45 anos, bem como mapeou o índice de escolaridade dos empregados brasileiros. Além disso, foi pesquisada a existência de ações afirmativas para aumentar o número de integrantes de diversos grupos vulneráveis
ATUALIDADE 
O rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda cresceu 52,6% entre 2003 e 2015. Entre os trabalhadores de cor branca, o crescimento foi de 25%.
O expressivo crescimento verificado nos últimos 13 anos, período que engloba os governos Lula e Dilma Rousseff, porém, não foi suficiente para reverter o quadro de desigualdade racial.
Os trabalhadores ocupados de cor preta ou parda ganhavam, em média, em 2015, 59,2% do rendimento recebido pelos trabalhadores de cor branca. O IBGE destacou, porém, o fato de que, em 2003, o percentual não chegava à metade (48,4%).
Razão da média anual do rendimento médio real do trabalho principal - (preto ou pardo/branco). Fonte: IBGE
O levantamento foi realizado em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) e entrevistou 120 mil pessoas em 45 mil domicílios.
A maior disparidade entre os rendimentos de brancos e negros observou-se na região metropolitana de Salvador, onde os trabalhadores pretos ou pardos recebem apenas 48% dos rendimentos dos brancos. Em 2003, o índice era ainda menor, só 32,3%. A diferença fica mais gritante quando se considera que Salvador é a cidade com maior número de negros e pardos no Brasil, quase 80% da população do município, segundo dados do Mapa da População Preta e Parda do Brasil, divulgados em 2010. 
A PME produz indicadores mensais sobre a força de trabalho que permitem avaliar as flutuações e a tendência, a médio e a longo prazos, do mercado de trabalho, nas suas áreas de abrangência. Trata-se de um indicativo ágil dos efeitos da conjuntura econômica sobre esse mercado, além de atender a outras necessidades importantes para o planejamento socioeconômico do País.
Fontes: CEERT/IBGE

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